SOB CUSTÓDIA - Amistoso à Hipocrisia

08/04/2013 09:00

 

FotoDias atrás, o presidente corinthiano Mário Gobbi, ao ser perguntado sobre a situação dos doze presos de Oruro, proferiu duras palavras contra a Bolívia. Gobbi foi criticado, levantou-se novamente a questão de que o Corinthians havia abandonado o caso Kevin Spada e todas as especulações caluniosas que a imprensa anti-corinthiana adora colocar em pauta voltaram.

Um amistoso foi realizado entre Brasil e Bolívia, onde a renda da partida seria destinada para “acalentar o coração” da família do jovem morto na primeira rodada da Copa Libertadores deste ano.

Sempre achei muito duvidoso compensar uma vida perdida com algumas centenas de milhares de reais. Não me parece que a vida de Kevin Spada poderá ser comprada de volta pela família, mesmo que por todo o dinheiro do mundo, infelizmente. Por conta disto, é leviano das autoridades futebolísticas brasileiras realizar um amistoso para reverter uma quantidade considerável de dinheiro para a família Spada, bem como me parece feio demais por parte da família aceitar tal quantia. 

“Nada vai trazer a vida do meu filho de volta, o dinheiro serve apenas para mostrar que nós não fomos abandonados.” Ora, esta justificativa é tão comum, é tão clichê, que se os pais do garoto forem perguntados sobre o caso, responderão exatamente isto. A vida do garoto foi barganhada por uma pequena fortuna, enquanto o responsável pela morte está solto e inocentes estão sendo maltratados em prisões bolivianas. Mas, pasmem leitores, este não é o ponto que mais causa indignação.

Depois de estabelecido que iria ocorrer o amistoso, ficou decidido que toda a renda da partida seria destinada à família Spada. Independente da questão moral aí existente, já que era para doar toda a renda do jogo, que seja feito, então!

Não foi isto que aconteceu. Instantes após o início da partida, foi informado que a renda do jogo seria dividida entre família Spada, campeões bolivianos da Copa América de 1963 e federação boliviana de futebol, é lógico. É tão revoltante o ocorrido, que o ingresso para o amistoso entre Brasil e Bolívia estava mais caro que aquele válido para assistir a partida das eliminatórias entre Bolívia e Argentina. Messi, Higuaín e Tevez valem menos que Neymar, Ronaldinho e Pato? Duvido muito.

A federação boliviana deu um exemplo apoteótico de cinismo e manipulação, tão grave quanto foi a morte de Kevin Spada.  Enquanto o lamentável ocorrido que deu origem a tudo foi um infeliz acidente, os bolivianos maquinaram exatamente como poderiam ganhar dinheiro sobre a tragédia. Venderam a partida como um tributo a Kevin, mas no protocolo oficial não existia nada com o nome do garoto estampado.

Desculpem os moralistas brasileiros, mas eu vou concordar com Mário Gobbi. A Bolívia é realmente um país tosco, quando o assunto é justiça e transparência. Assim como o Brasil, diga-se de passagem.

A morte de Kevin, infelizmente, foi em vão. Nada mudou e nada mudará.