OPINIÃO - Abaixo a violência

24/06/2013 11:40

 

Newton Lima*

 

A juventude brasileira voltou às ruas do país depois de um recesso de 21 anos. As últimas grandes manifestações tinham ocorrido em 1992, quando os estudantes “carapintadas” pediam o impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo e o Brasil assistia, não por acaso, à minissérie Anos Rebeldes, que tratava da luta da juventude de 1968 contra a ditadura.

Nas últimas semanas, centenas de milhares de pessoas em 11 capitais saíram para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público. Hoje o movimento ganhou dimensões muito mais amplas. A própria presidenta Dilma Rousseff reconheceu que a mensagem das ruas reafirma o “direito de influir nas decisões de todos os governos, do Legislativo e do Judiciário”, repudia a corrupção e comprova o “valor intrínseco da democracia, da participação dos cidadãos em busca de seus direitos”.

O que fez o movimento crescer num primeiro momento foi o repúdio popular à selvagem repressão policial do governo Alckmin à quarta manifestação, ocorrida em 13 de junho. A ação da PM foi uma agressão ao direito democrático de livre expressão, já que a passeata daquele dia estava sendo conduzida de maneira pacífica. 

O Movimento Passe Livre (MPL) conseguiu uma vitória expressiva por meio da legítima pressão popular ao forçar a redução no preço da tarifa do transporte em várias cidades. E uma conquista como esta só acontece em regimes plenamente democráticos. Condenáveis, os atos isolados de vandalismo mostraram-se inúteis; não foi o quebra-quebra que se fez ouvir, mas a mobilização da massa.

No entanto, as manifestações de quinta-feira (20) por todo o país, sobretudo em São Paulo, Rio e Brasília, trouxeram motivos de enorme preocupação. Numa tentativa de se apossar do movimento, grupos extremistas usaram da violência típica dos fascistas para privar do direito de livre expressão partidos políticos de esquerda. Uma jovem de 17 anos na Paulista teve suas roupas rasgadas por estar vestindo uma camiseta do PSTU! Em razão desses acontecimentos, o próprio MPL anunciou que não convocará novas manifestações, deixando claro que é apartidário, mas não antipartidário.

É sintomático também o comportamento de determinados formadores de opinião, que tentam despolitizar e, no limite, manipular as manifestações. Quando as primeiras mobilizações se iniciaram, a grande mídia chamou os participantes de “vândalos” – o Arnaldo Jabor chegou a comparar os manifestantes a integrantes de uma facção criminosa – e clamou pela repressão policial. Quando esta veio e atingiu inclusive jornalistas, a grande mídia passou a querer pautar o movimento, indicando quais bandeiras o MPL deveria adotar.

Com humildade, é preciso reconhecer o ineditismo deste movimento, que ultrapassa os mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos políticos, das entidades de classe e da própria mídia. Eis o grande desafio. Caberá em parte a nós, políticos que representam a soberania popular, encontrar as respostas para essa nova situação. Dessa capacidade dependerá o resgate das instituições democráticas, como os partidos políticos e o Congresso, hoje tão desgastados perante a opinião pública e a juventude.

 

Deputado Federal (PT-SP), presidente do PT Municipal, ex-prefeito de São Carlos e ex-reitor da UFSCar.